16 de dezembro de 2007

até amanhã


"O teu rosto inclinado pelo vento;
a feroz brancura dos teus dentes;
as mãos, de certo modo, irresponsáveis,
e contudo sombrias, e contudo transparentes;
o triunfo cruel das tuas pernas,
colunas em repouso se anoitece;
o peito raso, claro, feito de água;
a boca sossegada onde apetece
navegar ou cantar, ou simplesmente ser
a cor de um fruto, o peso de uma flor;
as palavras mordendo a solidão,
atravessados de alegria e de terror;
são a grande razão, a única razão."

Eugénio de Andrade
in Até Amanhã
jdh
(escolhi este texto do EdA para substituir outro que publiquei em 21Dez2006. É repetido aqui pela franqueza das palavras, pelo sentido que lhes dei e porque a escolha foi actual)

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