O saxofone que foi levado por um taxista
ou a história de Mark Turner através de um quotidiano que não deveria acontecer...
"O conhecido saxofonista norte-americano esqueceu-se do "seu" saxofone num táxi, em Lisboa. Ao fim de alguns dias, conseguiu recuperá-lo. Mas o resgate ficou avaliado em 500 dólares.
Lisboa, 8 de Setembro de 2008, 3 horas da madrugada. Na Praça da Alegria, um homem negro, magro e alto, sai de um táxi. O táxi arranca. O homem grita e corre atrás dele. Quer que o táxi pare. Mas o condutor não se apercebe, ou faz que não se apercebe, e desaparece. Mark Turner, um gigante do universo actual do jazz, corria atrás do seu saxofone tenor "favorito". O seu verdadeiro tormento não era os bocais do instrumento, o telemóvel iPhone ou a esteira de ioga que também via desaparecer na bagageira do táxi, mas o seu saxofone, que tinha a "sua" sonoridade...
Lisboa, 21 de Setembro, 10 horas da manhã. Na Avenida da República, o mesmo músico norte-americano paga 500 dólares ao mesmo taxista, para recuperar o seu saxofone "Selmer". Sofia, amiga do músico que prefere omitir o seu apelido, estava lá, à porta do restaurante onde Mark Turner, duas semanas antes, apanhara o táxi para a Residencial Alegria.
Nessa madrugada, o saxofonista "estava muito cansado e, por isso, muito lento". "Quando saí do táxi, virei-me e já o taxista ia rua fora. Ainda fui atrás… Não sei se me viu ou ouviu, e não registei a matrícula", contou Mark Turner ao JN, no último sábado, após outro concerto em Portugal. O artista chegou a ir à PSP, mas não formalizou a ocorrência. Regressou desolado aos EUA, deixando a Sofia a tarefa de anunciar uma recompensa, até dois mil dólares, pela entrega dos objectos desaparecidos. A ideia era negociar o valor, para baixo ou para cima, sendo certo que só o saxofone valia dez mil dólares.
Assim foi. Sábado passado, a esposa do taxista telefona a Sofia. Diz que o marido tem as coisas consigo (incluindo o iPhone) e combina um encontro para as 9.30 horas do dia seguinte - cerca de duas horas antes do embarque de Turner no avião que o levaria para França. São 10 horas quando a mulher entra no Restaurante Galeto, de mãos vazias. O marido, mais de 50 anos, espera na rua. "Estávamos nervosos e foi tudo muito rápido. O Mark ofereceu 300 dólares, mas ele começou a refilar, a dizer que não era nada, que queria mais. O Mark ofereceu mais 200, e ele aceitou", relata Sofia. Depois do casal desaparecer, Mark verifica que o telemóvel não fora devolvido.
Sem conseguir apurar a identidade completa do taxista, o JN conseguiu chegar à fala com ele. Que argumentou que não pedira recompensa. "Ela [Sofia] deu-me 500 dólares, mas já me disseram que a recompensa era dois mil", acrescentou. Referiu ainda que "era para entregar as coisas na Embaixada da América". Por que é que não o fez? "Sabe que eu trabalho de noite e durmo de dia!", exclamou, segunda-feira à tarde, antes de desligar abruptamente o telefone.
Para o presidente da Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros, Florêncio Almeida, o que o taxista fez foi "um roubo". E, para Mark Turner, também era evidente que se tratava de "um caso de polícia". O seu objectivo, contudo, era só um: "Quero é o meu saxofone!", dizia o músico, horas antes de desembolsar os 500 dólares."
A história de... Mark Turner, músico
NELSON MORAIS in JN 25/09/2008
NELSON MORAIS in JN 25/09/2008
Sem comentários:
Enviar um comentário